Laboratório de Manuseio Coreográfico

A dramaturgia é uma pergunta

por Candice Didonet

#BARRAR

o vírus a água o sol o movimento do rio dejetos pensamento um tiro os ladrões os impulsos as crises a rua uma fala um pensamento os carros você uma manifestação as pessoas uma pessoa a praia a entrada a saída a imaginação a loucura a medicação o pensamento crítico o mau hálito a censura

#CRIARANTICORPOS

Que ações, gestos e situações te nutrem e te fortalecem a partir de dentro?

 

Quais são seus anticorpos?

Que anticorpos você ofereceria pro mundo?

Para si   ME DEMORAR EM UM ABRAÇO MERGULHAR NO MAR CULTIVAR PLANTAS ESFREGAR A MÃO NO PEITO DORMIR COM A MÃO NO CORAÇÃO RESPIRAR FUNDO FECHAR OS OLHOS POR ALGUNS INSTANTES LER FEMINISTAS CHEIRAR UMA ROSA FAZER TAREFAS MAIS LENTAMENTE TOCAR MEU CONTORNO LEMBRAR DE MEMÓRIAS BOAS DANÇAR O QUE DÁ VONTADE ARREDONDAR-ME

CAMINHAR AO AR LIVRE SEM DESTINO BOTAR A CARA NO SOL ABRAÇAR  DEITAR NA REDE TOMAR/PASSAR UM CAFÉ COMPARTILHAR UMA REFEIÇÃO CONVERSAR DORMIR DE CONCHINHA AUTO-MASSAGEM CONTEMPLAR/ESTAR NA NATUREZA MEXER NA TERRA TOMAR BANHO DE MAR E/OU DE RIO TOCAR UM INSTRUMENTO DANÇAR SEM OUTRO MOTIVO QUE NÃO A VONTADE DE DANÇAR OFERECER O CORAÇÃO OLHAR PRO CÉU GRITAR QUANDO TO COM RAIVA ANDAR DE BICICLETA CUIDAR DAS PLANTAS ESTAR COM MEU CACHORRO FECHAR OS OLHOS E RESPIRAR

dizer não quando verdade; mover junto; tirar férias; dormir de conchinha; dançar/me mexer; ouvir música; cuidar das plantas; dar risada; chorar; tomar sol; subir num lugar alto; ficar pelada; nadar em água gelada; tomar café da manhã; ficar de ponta cabeça.

respirar, relembrar bons momentos; fingir demência, malhar, assistir filmes e séries; falar para pessoa que você gosta que você gosta dela; pensar-criar; fritar o cu, zuar com os amigos; tomar café; improvisar em asfaltos/pistas de skate; brincar de ser android; desistir.

Para o mundo 1. TOCAR 2. ABRAÇAR 3. DIZER BOM DIA 4. FAZER RIR 5. IMAGINAR 6. BRINCAR 7. COMPARTILHAR O QUE SABEMOS E O QUE NÃO SABEMOS 8. CRIAR 9. QUESTIONAR 10. ESCUTAR 11. MUDAR OS PONTOS DE VISTA

1. se expor; 2. expor uma dúvida;  3. expor ao diferente;           4. mandar mensagem de ‘oi’;  5. dizer ‘oi’;  6. convidar a mover;  7. dar a mão; 8. não pagar dívida;  9. sentar na grama;  10. inventar TAZ.

1. DAR AULAS DE DANÇA 2. ESCUTAR 3. ENCORAJAR UMA MULHER A REAGIR A UMA SITUAÇÃO OPRESSORA 4. LER FEMINISTAS 5. DANÇAR JUNTO COM OUTRAS PESSOAS 6. OFERECER UM TOQUE 7. DANÇAR A VONTADE DE MOVER 8. DANÇAR UMA MÚSICA 9. CULTIVAR PLANTAS 10. CHEIRAR AS COISAS

1. dizer sim quando verdade; 2. falar por quem não pode; 3. saber quando não falar; 4. abraçar; 5. ouvir; 6. mover junto; 7. dar a mão.

(listas escritas pelas criadoras durante o processo de criação para o vídeo 3: “não esquecer dos gestos de acolhimento”)

#EQUIPE

Gestos Barreiras

 

Concepção

Laboratório de Manuseio Coreográfico

Direção Geral e Direção de Movimento

Camila Venturelli 

Criação, Performance e Captação de vídeo

Camila Venturelli, Letícia Trovijo, Naíra Gascon e Rebeca Tadiello

Colaboração Artística

Dani Lima

Dramaturgismo

Candice Didonet 

Consultoria de vídeo e montagem

Bruna Lessa e Cacá Bernardes / Bruta Flor Filmes

Trilha sonora e finalização de som

Julia Teles

Arte Gráfica

Maria Carolina Marchi

Consultoria Redes Sociais

Vitor Dumont

Assessoria de Imprensa

Elaine Calux

Produção

Wesley Mendes

Direção de Produção

Cristiane Klein / Dionísio Produção

Criação do site

 

Organização de conteúdo

Camila Venturelli

Identidade Visual

Maria Carolina Marchi

Layout e desenvolvimento

Lidia Ganhito

Edição e direção visual dos gifs

Lidia Ganhito

Desenvolvimento do site

Luis Mourão e Gianluca Fiorini

Projeto realizado com o apoio do Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.

#HABITARAIMAGEM

Procedimento coreográfico:

 

Emoldurar-se na paisagem; Estar no espaço como coisa; Ceder à pretensão do fazer, apenas estar e deixar que as coisas aconteçam; Ser parte; Também chamamos de paragem; 

Ser vista de outro ponto de vista, mais do que ver.

#CUIDAR

cantar olhar nos olhos respeitar o meu tempo prestar atenção a medida certa ceder espaço dividir espaço chorar deixar chorar respeitar o tempo do outro cuidar do seu espaço refletir a sua cobrança conversar

abrir espaço oferecer espaço oferecer abraço receber cuidar das coisas do coração

afeto/afetar beber água alongar se mover/mover andar na rua mudar as coisas de lugar

mudar o caminho uma almofada mudar uma atitude  mudar o ponto de vista mudar se colocar no lugar da outra tomar banho de mar ver de perto e ver de longe

esvaziar deixar esvaziar arejar aberturas no corpo do outro seu mover com cuidado evitar lesões ralentar um pouco saber pedir desculpas na hora certa

eu me sinto cuidada quando cozinham pra mim quando recebo uma massagem quando eu não me apresso quando me perguntam como eu estou me sentindo quando eu encontro meu pai quando eu tomo um café na janela quando eu me toco quando me dão presentes quando me escutam quando eu cozinho cogumelos quando estou quente quando eu falo com meu irmão quando eu uso máscara

eu cuido quando eu faço massagem quando eu falo se cuida quando eu toco quando eu abraço quando eu estou presente quando eu ligo pra minha mãe quando eu presto atenção quando eu uso máscara quando eu observo

“Eu não acho que controle é uma palavra ruim. Eu não acho que cuidar (“care”) é a única prática em que nós precisamos estar engajados. E “care”, propriamente, envolve ambos aspectos do “curare”: tanto veneno quanto remédio estão embutidos na palavra “curare”, que é a raíz da palavra “care”. Portanto, práticas de cuidado não se tratam de um “ser legal” sentimentalizado. Viver e morrer verdadeiramente no cuidar envolve estar no meio da contradição, onde não há como não estar engajado na dualidade do cuidado e do veneno, da cura e do veneno.(…) Portanto, isso envolve, entre outras coisas, práticas de controle. (…) Práticas de controle também são práticas para nos mantermos vivos.” Donna Haraway (ver mesa de referências)

#OQUEHÁNAFALTA?

suspensão ausência desistência aperto no peito memória silêncio voz cheiro outras janelas sensações endereço falta não nomes possibilidades saudade possibilidades de preenchimento estrutura índice ideias vontades espaço oportunidade vazio perspectiva luto projeto percepção osso melancolia tempo acúmulo temperatura interrupção desfoque suspenção engasgo gravidade desistências estar atualizações lembrança da presença sobras obras objetos sem uso memórias estrutura objetos que lembram pessoas conteúdo negação aperto no peito não saber liberdade ruído branco verdade ansiedade depressão desmoronamentos pergunta tentativas de sustentação choro outros modos de encontro entre falta de vontade muita vontade pesar gestos sem sentido atropelos gestos com sentido gestos antigos escolhas semântica da negação buracos gestos aprendidos poros ar pelos peso batimentos cardíacos coração tambor inaudível gambiarra esforço abandono do esforço frustração desespero descoberta plantas invenção procura pouco tempo pra muita arte pouca arte pra muito tempo improviso trava liberação presença fluxo mínimo membrana espassa corpo inquieto corpo inventivo pausa preenchimento impossibilidades densidade preguiça pulsação impulsos vaga clareira abertura desaparecimento vão incógnita dificuldade de ver o horizonte procura neblina tentativas de ver o horizonte múltiplas escolhas ouvidação abstinência

#OGESTO

“O gesto é alguma coisa que está sempre mudando na relação com o ambiente, ele está em constante atualização o tempo inteiro, porque ele é sempre uma resposta ao ambiente externo e ao ambiente interno. É alguma coisa que está o tempo inteiro passível de transformação pelos inputs que recebe. A partir do que é o contexto, mas também a partir das respostas que ele gera.”

[..]Pensar a dramaturgia em relação às Artes do Corpo parece trazer à tona a tensão existente na busca de definições ampliadas para o termo dramaturgia expandida. Nas Artes   do   Corpo   temos   visto   e   têm   sido   colocadas,   cada   vez   mais,   dramaturgias experimentais que acolhem metodologias ligadas a processos de criação de obras de dança, performances ou intervenções urbanas. Ainda assim, a (in)existência da dramaturgia aponta questões. Interessadas em cutucar a complexidade existente em dramaturgias que possam partir da pesquisa de movimento em que os textos se compõem como os próprios gestos, ou então, a partir das dramaturgias   tecidas   nas   relações   espaciais   ligadas   a   outros   sítios   de   interação   de acontecimentos artísticos, pensamos duas perguntas sugeridas por Lepecki (2010): qual a função da dramaturgia e como se dá a presença de uma pessoa ligada a essa labuta?

[…]

Gostaríamos, então, de propor a insistência (do pensar, do duvidar, do tecer) como uma ação ligada às duas perguntas colocadas anteriormente. Não saber qual a função dramaturgia   insiste   na   permanência   de   algumas   ações   sugeridas   como: propor, aconselhar, intervir, dar ideias, assistir, questionar etc… Será que essas ações indicariam a presença  de uma pessoa ligada à labuta da dramaturgia e que pode assumir outro nome, com uso frequente de colaboradora ou colaborador? A palavra colaboração nos faz propor um jogo linguístico performático presente em seu   desdobramento.   Traz   materialidade   corpor(e)al   e   da   função   da   dramaturgia, consistência ética e visibilidade estética: co-laboração. Co-labo-ração. Colabor-ação. Será que nessa brincadeira silábica podemos nos aproximar da presença em performance dramaturgista? Talvez pelas matérias sensíveis que tocam dentro dos processos de criação ligados às Artes do Corpo, sua existência nunca estará dada. Já que sua ação pode (não)chegar pela palavra escrita-dita, será que romperá condutas já conhecidas trazendo, ainda mais, complexidade à sua função?

Padlets de organização coreográfica-dramatúrgica dos materiais que foram sendo desenvolvidos e usados no processo,

criados por Camila Venturelli:

Made with Padlet

Made with Padlet

Criado com o Padlet