barrar em gestos
Barrar em gestos traz a literalidade da ação de barrar sublinhando aspectos desapercebidos na repetição exaustiva – e necessária – do cotidiano.
Como a pandemia tem nos coreografado? Que gestos são necessários, possíveis, urgentes? Que gestos surgem quando a mediação das relações e afetos são as telas?
“Gestos barreiras” é uma série de três vídeo-danças que dão a ver diferentes aspectos do gesto no contexto da pandemia do Covid-19. São três estados de um mesmo tempo organizados em dramaturgias gestuais de listas. Seja pela paragem, pela repetição ou pela imaginação, a série “Gestos Barreiras” é uma aposta na sensorialidade do meio audiovisual como modo de criar experiências sensíveis e possíveis.
#BARRAR
o vírus a água o sol o movimento do rio dejetos pensamento um tiro os ladrões os impulsos as crises a rua uma fala um pensamento os carros você uma manifestação as pessoas uma pessoa a praia a entrada a saída a imaginação a loucura a medicação o pensamento crítico o mau hálito a censura
#CUIDAR
cantar olhar nos olhos respeitar o meu tempo prestar atenção a medida certa ceder espaço dividir espaço chorar deixar chorar respeitar o tempo do outro cuidar do seu espaço refletir a sua cobrança conversar
abrir espaço oferecer espaço oferecer abraço receber cuidar das coisas do coração
afeto/afetar beber água alongar se mover/mover andar na rua mudar as coisas de lugar
mudar o caminho uma almofada mudar uma atitude mudar o ponto de vista mudar se colocar no lugar da outra tomar banho de mar ver de perto e ver de longe
esvaziar deixar esvaziar arejar aberturas no corpo do outro seu mover com cuidado evitar lesões ralentar um pouco saber pedir desculpas na hora certa
eu me sinto cuidada quando cozinham pra mim quando recebo uma massagem quando eu não me apresso quando me perguntam como eu estou me sentindo quando eu encontro meu pai quando eu tomo um café na janela quando eu me toco quando me dão presentes quando me escutam quando eu cozinho cogumelos quando estou quente quando eu falo com meu irmão quando eu uso máscara
eu cuido quando eu faço massagem quando eu falo se cuida quando eu toco quando eu abraço quando eu estou presente quando eu ligo pra minha mãe quando eu presto atenção quando eu uso máscara quando eu observo
“Eu não acho que controle é uma palavra ruim. Eu não acho que cuidar (“care”) é a única prática em que nós precisamos estar engajados. E “care”, propriamente, envolve ambos aspectos do “curare”: tanto veneno quanto remédio estão embutidos na palavra “curare”, que é a raíz da palavra “care”. Portanto, práticas de cuidado não se tratam de um “ser legal” sentimentalizado. Viver e morrer verdadeiramente no cuidar envolve estar no meio da contradição, onde não há como não estar engajado na dualidade do cuidado e do veneno, da cura e do veneno.(…) Portanto, isso envolve, entre outras coisas, práticas de controle. (…) Práticas de controle também são práticas para nos mantermos vivos.” Donna Haraway (ver mesa de referências)
#OGESTO
“O gesto é alguma coisa que está sempre mudando na relação com o ambiente, ele está em constante atualização o tempo inteiro, porque ele é sempre uma resposta ao ambiente externo e ao ambiente interno. É alguma coisa que está o tempo inteiro passível de transformação pelos inputs que recebe. A partir do que é o contexto, mas também a partir das respostas que ele gera.”
#CRIARMEMBRANA
“Cada pessoa tem um equilíbrio fluido-membrana diferente – uma característica constitucional básica que também pode variar de um momento a outro. Esse equilíbrio revela muito sobre nossos padrões de movimento, de relacionamento, de comunicação, de expressão e de transformação. Eles se expressam na nossa capacidade de modulação tônica, de adaptabilidade, de mudança de um estado a outro, de manter uma determinada postura ou de sustentar um gesto. Enquanto os fluidos nos proporcionam a possibilidade de deixar acontecer, de ir com as marés – em um fluxo de movimentos, de pensamentos, de emoções – as membranas nos fornecem continente, estrutura, proteção. Um desequilíbrio que pese demasiado para o lado dos fluidos pode favorecer a indiferenciação, o caos, a perda de si e do mundo. E, opostamente, apoiar-se excessivamente nas membranas pode levar à rigidez, à intolerância, à perda das trocas com o mundo. Fluidos e membranas se necessitam mutuamente para o bem-estar e equilíbrio das células e da vida.”
trecho do artigo “UMA EXPERIÊNCIA SOMÁTICA EM DANÇA ENTRE FLUIDOS E MEMBRANAS” de Dani Lima.
palavras relacionadas à membrana
PALAVRA
PASSAPORTE PARA ESTAR
ESPAÇO
LINHAS
APOIO NA ARQUITETURA DA CASA
DIREÇÃO
PAUSA
RESISTÊNCIA
INTEGRIDADE IMPOSTA
OLHO ABERTO
MEDO
SEMÂNTICA
ESCADA
TERRITÓRIO
FIRMEZA
MANCHA
INTENSIFICAR
ORGANIZAR
PRESENÇA
SEPARAR
FIGURA
DIFÍCIL
JOELHO MACHUCADO
MOLDAR
GOLE D´ÁGUA
#COMOMOVER?
No ramo da infectologia, o pensamento de eliminar os chamados ‘vetores de contaminação’ predomina diante dos esforços governamentais, midiáticos, corporais, civis (na melhor das hipóteses)….//////
E quando o vetor de contaminação é justamente um corpo humano – diante de uma doença que ataca a própria espécie ? → Quarentena, gestos barreiras, negações, extermínios dolosos (?) … // Pois sim, os corpos mortos não são os que mais favorecem o contágio, são os corpos vivos/respirantes que o fazem -> os corpos vivos querem se manter vivos, e para isso há a condição lógica de se aceitar como um vetor- como uma possibilidade de morte para o outro –> ao aceitar isso, estes corpos são obrigados a complexificar os gestos de expansão em relação a sua própria vida–> ao complexificar tais gestos, somos obrigados a repensar as esferas de valoração do nosso mover no mundo….. -> isso requer a ressignificação de alguns acordos simbólicos, acordos não assinados que sempre perpassam o “estar” e suas comunicações;; e onde há ‘símbolos’ há barganha semiótica/ onde há símbolo, há guerra. ///logo>: como mover? Como perceber as ressignificações de moveres sutis em ossos, músculos, células..??
Rebeca Tadiello
#ZOOMIN
Procedimento coreográfico
Mover-se em relação a um ponto de vista, emoldurar e/ou aproximar o(s) gesto(s) enquanto move; Dar relevância a um gesto específico, a um detalhe dele ou uma parte do corpo – em relação à tela, a um ponto de vista ou a si mesma; Em relação à tela, mover-se em fluxo se aproximando e se distanciando da tela emoldurando o(s) gesto(s) enquanto move; Revelar o detalhe
#ZOOMOUT
Procedimento coreográfico
Mover-se distanciando-se de um ponto de vista, revelando camadas do gesto: corpo, ambiente, paisagem. Integrar-se à paisagem/ambiente; Ser parte de um todo; Em relação à tela, repetir um mesmo gesto ou mover-se em fluxo se distanciando, de modo a ressignificar o gesto a cada novo enquadramento de corpo/ambiente. Estado de escuta ao gesto que os estares em determinado ambiente sugere.
#EQUIPE
Gestos Barreiras
Concepção
Laboratório de Manuseio Coreográfico
Direção Geral e Direção de Movimento
Camila Venturelli
Criação, Performance e Captação de vídeo
Camila Venturelli, Letícia Trovijo, Naíra Gascon e Rebeca Tadiello
Colaboração Artística
Dani Lima
Dramaturgismo
Candice Didonet
Consultoria de vídeo e montagem
Bruna Lessa e Cacá Bernardes / Bruta Flor Filmes
Trilha sonora e finalização de som
Julia Teles
Arte Gráfica
Maria Carolina Marchi
Consultoria Redes Sociais
Vitor Dumont
Assessoria de Imprensa
Elaine Calux
Produção
Wesley Mendes
Direção de Produção
Cristiane Klein / Dionísio Produção
Criação do site
Organização de conteúdo
Camila Venturelli
Identidade Visual
Maria Carolina Marchi
Layout e desenvolvimento
Lidia Ganhito
Edição e direção visual dos gifs
Lidia Ganhito
Desenvolvimento do site
Luis Mourão e Gianluca Fiorini
Projeto realizado com o apoio do Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.
#GESTOSBARREIRAS
Esta é uma página com materiais do processo de criação da série de videodanças Gestos Barreiras, desenvolvida pelo Laboratório de Manuseio Coreográfico, no primeiro semestre de 2021.
Todas as etapas de criação deste projeto como produção, criação coreográfica, ensaios, reuniões, gravações, montagem, exibição, pós-produção e criação de site aconteceram de maneira totalmente remota, a fim de preservar toda a equipe e respeitar as restrições da fase emergencial na cidade de São Paulo, no maior pico da pandemia no Brasil até o período.
Nesta página, você vai encontrar, além das videodanças principais, rastros de processo, listas, gif de gestos, anotações de campo, imagens de ensaios, relatos, textos reflexivos e vídeos curtos. Materiais que surgiram no processo de criação, com todas as artistas envolvidas.
Nos ícones principais, que levam os nomes dos três vídeos: “Sustentar a falta”, “Barrar em gesto” e “Não esquecer dos gestos de acolhimento”, você encontra os links para assistir cada um dos vídeos principais. Sugerimos apreciá-los com fones de ouvido. No entanto, os vídeos principais só estarão disponíveis para apreciação em períodos determinados. Acompanhe nossa programação em “Agenda” para saber as próximas datas!
Nos ícones das estrelas, encontram-se textos sobre as concepções coreográficas e dramatúrgicas, padlets, referências e vídeos, além de registros de outras ações que rolaram no projeto.
As hashtags podem ser acessadas através da página principal e também nas páginas a que estão relacionadas. Elas inventam conceitos, procedimentos, vocabulários que surgem da experiência.
Cada um destes cliques é um convite para adentrar ao trabalho de uma maneira diferente. Se você se sentir perdida/o/e, o ícone do hambúrguer estará sempre lá em cima à esquerda para te trazer de volta ao menu principal.
Boa experiência!
Projeto realizado com o apoio do Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.